sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Aula 15: 1 de outubro


Texto: “O público moderno e a fotografia”, de Charles Baudelaire.
Comentários sobre o texto, a relação pessoal entre o poeta e o fotógrafo Félix Nadar; exibição e comentários sobre as fotografias e a vida de Nadar.
Avesso à má condução do fenômeno da fotografia, o poeta deixa claro, em sua célebre crítica do Salão de 1859, que a arte nada tem a ver com a reprodução exata da natureza. Em “O público moderno e a fotografia”, Baudelaire repudia a noção de exatidão como valor estético e, com ela, a fotografia representante máxima naquele momento da reprodução fiel do visível.
Nesse artigo, Baudelaire mostra como a poesia e o progresso são “dois ambiciosos que se detestam com um ódio instintivo” e, se há confronto, um sempre tem que se sujeitar ao outro. Um dos sinais do progresso para o poeta é a fotografia, “refúgio de pintores fracassados e sem talento ou preguiçosos demais para terminarem seus esboços.”
Há contudo nesse artigo algumas inquietações de Baudelaire quanto ao papel que a fotografia deveria ocupar. Na opinião dele, deveria ser a “serva das ciências e das artes, mas humílima serva, como a imprensa e a estenografia, que não criaram nem substituíram a literatura”. E, se “lhe for permitido invadir o campo do impalpável e do imaginário, aquilo que vale somente porque o homem aí acrescenta algo da própria alma, então, pobres de nós!”
Ele se pergunta: que homem digno do nome de artista, e que amador verdadeiro já confundiu a arte com a indústria? Para Baudelaire, a fotografia era um meio mecânico de representação por onde não passava o estilo pessoal do artista. “Dia a dia a arte diminui o respeito por si mesma, prosterna-se diante da realidade exterior e o pintor torna-se cada vez mais inclinado a pintar não o que sonha, mas o que vê. No entanto, é uma felicidade sonhar e era uma glória exprimir o que se sonhava”.
Em “O público moderno e fotografia”, torna-se interessante ressaltar que Baudelaire não comenta uma só imagem. Foi a terceira exposição fotográfica organizada pela Société Française de Photographie e a primeira vez em que ela foi exposta paralela ao salão de arte, juntamente com a pintura e a escultura. Para o poeta essa pretensa ascensão artística proporcionou o mais profundo incômodo. A essa altura muitos dos fotógrafos da época, entre eles Félix Nadar, um de seus amigos mais próximos, já tinha feito dele vários portraits.
Além do fato de uma “ciência material” – a fotografia, nas palavras de Baudelaire-passar a ser considerada arte, o poeta abominava a idéia de ela retirar da arte toda a dimensão imaterial e éterea, tornando-se, ainda assim, um produto do belo. Baudelaire não une, no entanto, belo e verdadeiro. Ele diz que “o gosto exclusivo pelo Verdadeiro (tão nobre quanto limitado) reprime e sufoca o amor pelo belo.” E completa: “como o belo é surpreendente, seria absurdo supor que o que é surpreendente é sempre belo. Ora, nosso público, que é singularmente incapaz de sentir a felicidade da fantasia ou da perplexidade (sinal das almas mesquinhas), quer ser surpreendido por meios estranhos à arte, e seus artistas obedientes conformam-se a esse gosto; eles querem impressioná-lo, surpreendê­lo, deixá-lo estupefato através de estratagemas indignos, porque sabem que ele é incapaz de se extasiar diante da tática natural da arte verdadeira”.
Para Baudelaire, a fotografia era um meio estranho à arte, mas um meio capaz de surpreender e causar perplexidade, mesmo que a contragosto do poeta. Nesse aspecto, ele tenta livrar do belo o sentimento de surpresa e termina por se dissociar de uma idéia clássica da beleza. Libera a fotografia de um conceito estético de beleza, mas reconhece sua propriedade de criar uma suspensão, um êxtase. O que o incomoda é que este estado de perplexidade é alcançado justamente pela grande maioria, pelas “almas mesquinhas”, que são a seu ver incapazes de se “extasiar diante da arte verdadeira”.O poeta distingue os públicos: o que é capaz de compreender e se maravilhar com as obras de arte não é o mesmo que cai de amores pela fotografia.

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