quarta-feira, 26 de maio de 2010

Visita à exposição World Press Photo 2010

Graham, jovem anorexico.Foto de Laura Pannack, 1º lugar Retratos Categoria single
A próxima aula do curso será a visita à exposição do World Press Photo 2010, na Caixa Cultural (Av Almirante Barroso,25 - Centro, atrás da estação de metrô Carioca). Encontro: 19 horas, em frente ao Foyer do 1º andar. Posto aqui algumas informações que podem ser úteis para a redação da resenha.
Composta por uma seleção feita entre 101.960 imagens enviadas por 5.947 fotógrafos de 128 nacionalidades diferentes, a exposição é uma chance de montar um painel da história recente e ampliar a perspectiva do indivíduo sobre a sociedade. Variando desde imagens bélicas do Afeganistão até paisagens bucólicas da Antártica, ela traz ao público a oportunidade de pensar sobre os fatos que passam tão aceleradamente pelos noticiários. A mostra é um convite à reflexão sobre o referencial contemporâneo de imagem jornalística e documental.


O Rio de Janeiro é a única cidade do Brasil e a primeira da América a exibir esta 53ª edição do WORLD PRESS PHOTO. A cada ano são premiadas as melhores imagens publicadas na imprensa ao redor do mundo. Na edição atual, fatos relevantes em 2009 nas áreas da política, ecnonomia, esportes, cultura e natureza são documentadas por 162 registros de 63 fotógrafos, originários de 23 países.




Meninos e meninas. Foto de Annie Van Gemert. 2º lugar Retratos - Categoria Série de fotos









Mulher grita em protesto contra resultado da eleição presidencial em Teerã, 24 de junho. Foto de Pietro Masturzo, Photo do Ano.

Publico abaixo o texto assinado por Ayperi Karabuda Ecer, (Suécia/Turquia, vice-presidente de fotografia da agência Reuters e presidente do júri de 2010.) publicado no catálogo da exposição:
“Como podemos atribuir o primeiro lugar a uma fotografia cujo tema não é imediatamente identificável?”
Esta foi uma das questões-chaves discutidas pelo júri do World Press Photo 2010.
Embora alguns entre nós tenham sido atraídos desde o início pela imagem vencedora de Pietro Masturzo, sentindo que ela nos incitava a descobrir algo mais, outros permaneceram indiferentes pela sua falta de contexto imediato. Alguns consideravam que o fotógrafo deve ser capaz de expressar “tudo” numa só imagem, enquanto outros pensavam que este “tudo” seria uma ilusão. Argumentavam que não queriam que lhes dissessem o que pensar, queriam apenas que o fotógrafo abrisse portas de forma criativa, para alimentar a reflexão e despertar a emoção.
A fotografia vencedora do World Press Photo deste ano, que mostra mulheres protestando ao anoitecer nos telhados de Teerã, convida-nos a descobrir uma notícia importante de maneira diferente: calmamente, sem deixarmos de sentir a forte tensão. A sua beleza acrescenta valor à informação.
Todos os membros do júri partilharam a sensação pungente de quão pouco do sofrimento do mundo somos realmente capazes de absorver, quando confrontados com 101.960 imagens concorrentes. Era como se a intensidade do drama tivesse paralisado o efeito visual por se repetir com tanta freqüência.
Olhar para as imagens vencedoras desperta, em cada caso, uma rica e complexa combinação de reações:
O desejo de encontrar formas mais pessoais de comunicação. A sensação do conflito evocado por uma sala de estar bombardeada em Gaza; o vazio que envolve o retrato de um jovem anoréxico; o esquartejamento sistemático de um elefante por camponeses esfomeados; os efeitos devastadores da guerra revelados através de soldados feridos fotografados em residências suburbanas;
Reação e resposta à violência absurda dos acontecimentos, que nos oferecem todos os dias novos desafios, obrigando-nos a reagir de novo a conflitos no Iraque, Afeganistão e Gaza; abrindo-nos os olhos para outras tragédias que ainda não estão presentes na nossa consciência coletiva, como a de Madagascar.
Identificação e questões em torno das nossas vidas. Ver como a fotografia pode transmitir magicamente as emoções e aspirações de uma mãe solteira isolada em Detroit; de um confortável pequenique de domingo numa praia de Moçambique; da natureza assombrosa e de esportes estonteantes.
Há muitas maneiras de relacionar estas imagens, mas a informação é sempre o elemento nuclear: você já havia visto fotografias documentando a ocupação de Guiné- Bissau pelos barões de droga? Sabia que uma laranja contaminada pela poluição tem o aspecto da Terra vista pelo espaço? O que são essas nuvens brancas e cônicas sobre Gaza?
Este concurso não pretende elencar prêmios para a profissão numa espécie de hierarquia. Todas as fotografias vencedoras fazem parte de um todo. No seu conjunto, constituem uma declaração sobre o fotojornalismo e sobre o nosso tempo.
Em um ano no qual os orçamentos dos meios de comunicação sofreram cortes severos, quando muitos jornalistas perderam o emprego e o número de encomendas de trabalho fotográficos decresceu drasticamente, a seleção do Worl Press Photo continua a oferecer uma visão única.
Esta seleção não é um inventário de temas mundiais. È uma viagem fotográfica, um quebra-cabeças visual que celebra o ponto de vista do fotógrafo, apresentando o melhor em cada categoria para que se possa refletir, questionar e desfrutar.
Nascidos em Bordéis
Aproveitando a deixa da exposição, comento sobre o filme Nascidos em Bordéis e
coloco o link para o trailer: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt&section=Blogs&post=252513&blog=762&coldir=1&topo=3994.dwt
No documentário há uma visita e uma palestra de uma das crianças, Avijit Bucket, à sede do World Press PHoto, na Holanda. O filme desperta comentários elogiosos e também levanta questões polêmicas sobre o etnocentrismo e a noção de “salvar” o mundo. Copio aqui um comentário da revista de cinema Contracampo abominando o documentário e insiro o meu, considerando o aspecto da fotografia abordado no filme. Sem dúvida, a cena da visita do menino Bucket à Holanda nos faz compartilhar do mundo enigmático da seleção das imagens.
A fotografia como experiência
“Para quem tem os olhos focados na fotografia, ou já pôde sentir o quanto a linguagem fotográfica pode mexer com nossa maneira de ver o mundo, o filme “Nascidos em Bordéis” é uma boa indicação. Produção de 2004, vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de filmes de Sundance e do Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem, o filme mostra o cotidiano das crianças do bairro da Luz Vermelha, em Calcutá, na Índia. O lugar é conhecido pela miséria e prostituição e a partir da iniciativa de Zana, uma fotógrafa americana que lhes ensina a fotografar, os pequenos começam a registrar com uma câmera fotográfica a vida que os cercam. As imagens fotográficas se mesclam ao filme e vão compondo a narrativa. O universo desse submundo indiano vai sendo descortinado a partir dos olhares das próprias crianças marginalizadas e até então sem um futuro digno a ser vivido. A favor ou não da fotógrafa que tenta “salvar” as crianças do destino que as espera, o que é mais enriquecedor no filme é poder acompanhar o desabrochar dessas crianças a partir da vivência com suas câmeras fotográficas. É poder constatar o quanto a fotografia pode contribuir para as questões da identidade e, ao contrário do que vem acontecendo atualmente, pode fugir à banalização e cumprir um papel ético.”
Teresa Bastos, publicado em 23 de janeiro de 2008 no blog imagesvisions: http://imagesvisions.blogspot.com/2008/01/filme-mostra-como-linguagem-fotogrfica.html
Nascidos nos Bordéis, de Zana Briski e Ross KaufmanBorn into brothels: Calcutta's red light kids, Índia/EUA, 2004Nascidos nos Bordéis não é um filme comovente sobre uma mulher que tenta salvar a vida de alguns meninos fadados a repetir a vida criminosa de drogas e prostituição nos guetos da luz vermelha da Índia. É sobretudo um filme de terror. Um filme sobre como uma documentarista, dotada de todas as verdades egocêntricas e etnocêntricas sobre como dar liberdade aos outros, vai num país "exótico e atrasado" para com a arte (a fotografia, o cinema) salvar quem ainda pode ser salvo do mar de lama: as pobres criancinhas. Há um quê de Michael Moore (a professora-cineasta lutando contra a burocracia terceiromundista e preconceituosa da Índia para tirar os vistos de ração de seus alunos), como há um nojento fedor de autopromoção (as crianças sendo entrevistadas pela televisão indiana dizendo como tudo que a tia Zana ensina vai direto pro cérebro, como ela é boazinha e atenciosa, etc.) nessa enquete assistencialista que tenta aplacar a culpa social através de saídas voluntaristas que "fazem a diferença". O voluntarismo, como bem se sabe, serve mais para aliviar a consciência de quem pratica do que para salvar o outro a quem ele geralmente é destinado. Assim, depois que a diretora do filme se esforça para colocar todos os meninos na escola – a toques de caixa, para mostrar que fez sua parte –, as legendas nos informam que a maioria deles voltou para a família. A metáfora é clara: como George W. Bush concedendo aos iraquianos uma democracia que, para princípio de conversa, eles não pediram, tia Zana aparece com seus valores universais para dar "liberdade" a pessoas que vivem num contexto social e existencial em que essa liberdade não é possível. Em Nascidos nos Bordéis, a arte serve como álibi para uma prática invasiva, altamente questionável, e como desculpa para ser bonzinho com os outros e, assim, conseguir suas medalhinhas da Unicef (ou o senso do dever cumprido). Todo o poder à má-consciência. Como no igualmente lamentável Cine Mambembe, a tarefa do artista é agir como elemento invasivo porém carregando valores "universais" para iluminar a vida de pessoas humildes. Efeito "pixote": para um possível fotógrafo de carreira profissional bem-sucedida, quantos conviverão com uma lembrança frustrada de uma caucasiana bem trapalhona? A benevolência cretina de uma documentarista que vai embora enquanto os outros ficam com seus recém-criados desejos artísticos é algo de virar o estômago. Zana Briski jamais deve ter lido O Pequeno Príncipe; nele, se lê: "Tu és responsável por aquilo que cativas". De boas intenções... (Ruy Gardnier)
Revista Contracampo /Pílula, seção crítica

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Exibição de filmes e debate sobre Ruy Santos no Centro Cultural Justiça Federal

Cena do filme O Saci (1953), de Rodolfo Nanni, com fotografia de Ruy Santos.

Em paralelo à exposição Ruy Santos: imagens apreendidas, serão exibidos no Teatro do Centro Cultura Justiça Federal, nos dias 15 e 22 de maio, filmes com direção ou com outro tipo de participação do cineasta Ruy Santos (1916 – 1989).
Ruy fotografou e dirigiu mais de 30 documentários, dos quais alguns foram premiados no Brasil e no exterior. De sua estréia ainda jovem, como assistente de fotografia do lendário filme Limite (1930), de Mário Peixoto, até sua morte, em 1989, foram mais de quarenta anos de cinema e fotografia.
Ruy foi fotógrafo oficial do PCB e comungava, como muitos artistas e intelectuais da época, dos ideais e da proposta do Partido. Foi preso em 1948 e sua produção fotográfica apreendida.
Em sua incursão pelo cinema, Ruy Santos, além de documentários, dirigiu, produziu, escreveu roteiros e fez a fotografia de filmes de ficção. Apesar de extensa cinematografia, Ruy Santos é desconhecido do grande público.

Após a exibição haverá debate e conversa com o público, de acordo com a programação abaixo. A intenção da mostra é dar visibilidade ao trabalho de Ruy Santos no cinema, cuja enorme produção está dispersa e inacessível.

Programação

Dia de exibição: 15 de maio, 2010 (sábado)
Exibição de filme seguido de debate

Sol sobre a lama (1963), de Alex Viany com câmera e direção de fotografia de Ruy Santos
Sinopse: A luta pela preservação do canal de acesso à Feira de Água de Meninos em Salvador, BA, movida por diversos personagens-tipo (prostituta, saveirista, ceramista, etc) contra os poderosos que ambicionam os terrenos sobre os quais se desenrola a feira.
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos

Debatedores: Hernani Heffner (Conservador-chefe da Cinemateca do MAM ) e José Carlos Monteiro (Professor do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF)
Mediadora: Adriana Cursino (Cineasta, pesquisadora de Cinema e doutoranda do Programa de Pós-graduação da ECO/UFRJ)
Horário: 14 às 17 horas

Dia de exibição: 22 de maio
Exibição de cinco filmes, seguida de conversa com o público. A sessão contará com a participação da diretora executiva da Verona Filmes, Rossana Ghessa, uma das últimas parcerias cinematográficas de Ruy Santos.

Comício: São Paulo a Luiz Carlos Prestes (1945), com direção, roteiro e fotografia de Ruy Santos, curta que já está sendo exibido em monitor durante a exposição Ruy Santos, imagens apreendidas, no Gabinete Fotográfico do 1º andar do CCJF.
Sinopse: o documentário retrata a preparação e a realização do comício, realizado em 15 de julho de 1945 no estádio do Pacaembu, em São Paulo. O filme mostra o encontro do líder comunista Luiz Carlos Prestes com o povo após nove anos de prisão, boa parte desse tempo incomunicável.
Duração : 9min14seg
Classificação: livre

O saci ( 1951 – 53), com direção de Rodolfo Nanni e fotografia de Ruy Santos
Sinopse: Primeiro filme infantil brasileiro, O Saci foi um marco na história do cinema nacional. O filme narra as aventuras de Pedrinho e suas tentativas de capturar o endiabrado Saci, que depois irá ajudá-lo a desfazer a bruxaria da Cuca, tudo com a ajuda de Emília e Narizinho do Sítio do Pica Pau Amarelo, onde vivem Dona Benta e Tia Anastácia.
Duração: 65min
Classificação: livre

O Coronel Delmiro Gouveia: o homem e a terra (1968), com direção, roteiro, fotografia e produção de Ruy San tos.
Sinopse: No curta-metragem de Ruy Santos, feito em 1968, temos um perfil laudatório, que associa o personagem, pioneiro comerciante e industrial nordestino, Delmiro Gouveia (1863-1917) a outras glórias nacionais, como Villa Lobos (trilha sonora) e Jorge de Lima (citação). Parte desse trabalho de construção de um herói é denunciar nominalmente os supostos autores e mandantes de seu assassinato.
Duração: 9min
Classificação: 12 anos

O Homem e o limite (1976), com direção, fotografia e montagem de Ruy Santos.
Sinopse: Documentário sobre Mário Peixoto e seu filme Limite (1931), considerado um clássico do cinema brasileiro, acompanhado de parte do comentário musical originalmente utilizado por Mário Peixoto. Filme dedicado à memória de: Edgard Brazil, Brutus Pedreira e Plínio Susssekind Rocha.
Duração: 30min
Classificação: livre

Jorge Amado (2002), com fotografia e direção de Ruy Santos
Sinopse: O documentário remonta a trajetória de Jorge Amado a partir de imagens de arquivo inéditas, além de entrevistas com escritores, cineastas e amigos. O filme analisa a obra do autor baiano, sua militância no Partido Comunista e a forte relação com o Nordeste, sempre presente em seus romances.
Duração: 45 min
Classificação: livre

Serviço
Data: 15 e 22 de maio (ambos sábado)
Local: Teatro do Centro Cultural Justiça Federal
Endereço: Av. Rio Branco, 241 – Centro – (Cinelândia, ao lado da Biblioteca Nacional)
Capacidade do Teatro : 140 lugares
Horário: 14 às 17 horas
Entrada: valor simbólico de 1,00
Filmes serão exibidos em DVD

segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Ruy Santos: imagens apreendidas" até 13 de junho no Gabinete Fotográfico do CCJF


De algoz a guardiã

O Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro é o guardião desde 1992 de vasta documentação produzida e apreendida pela implacável e obsessiva Policia Política Brasileira atuante por mais de sessenta anos no controle e repressão da sociedade.

No caso das apreensões, as muitas investidas na sede do Partido Comunista Brasileiro permitiram à Polícia constituir um acervo razoável da trajetória do PCB e, ironicamente, tornou-se sua maior fonte de informações.

Esta exposição exibe imagens apreendidas do fotógrafo e cineasta comunista, Ruy Santos, preso “para averiguações” em 1948. Ruy nos traduz um dos momentos mais importantes do PCB : o comício de Luiz Carlos Prestes, no estádio do Pacaembu, em 15 de julho de 1945, em São Paulo.

De criminosas e apreendidas, estas imagens tornaram-se redentoras. Foram aqui restituídas à sua condição de arte.
Teresa Bastos
Curadora
Veja aqui o filme Comicio: São Paulo a Luiz Carlos Prestes, (1945)com direção e fotografia de Ruy Santos cujas imagens são vistas na exposição: