
A próxima aula do curso será a visita à exposição do World Press Photo 2010, na Caixa Cultural (Av Almirante Barroso,25 - Centro, atrás da estação de metrô Carioca). Encontro: 19 horas, em frente ao Foyer do 1º andar. Posto aqui algumas informações que podem ser úteis para a redação da resenha.
Composta por uma seleção feita entre 101.960 imagens enviadas por 5.947 fotógrafos de 128 nacionalidades diferentes, a exposição é uma chance de montar um painel da história recente e ampliar a perspectiva do indivíduo sobre a sociedade. Variando desde imagens bélicas do Afeganistão até paisagens bucólicas da Antártica, ela traz ao público a oportunidade de pensar sobre os fatos que passam tão aceleradamente pelos noticiários. A mostra é um convite à reflexão sobre o referencial contemporâneo de imagem jornalística e documental.
O Rio de Janeiro é a única cidade do Brasil e a primeira da América a exibir esta 53ª edição do WORLD PRESS PHOTO. A cada ano são premiadas as melhores imagens publicadas na imprensa ao redor do mundo. Na edição atual, fatos relevantes em 2009 nas áreas da política, ecnonomia, esportes, cultura e natureza são documentadas por 162 registros de 63 fotógrafos, originários de 23 países.


Mulher grita em protesto contra resultado da eleição presidencial em Teerã, 24 de junho. Foto de Pietro Masturzo, Photo do Ano.
Publico abaixo o texto assinado por Ayperi Karabuda Ecer, (Suécia/Turquia, vice-presidente de fotografia da agência Reuters e presidente do júri de 2010.) publicado no catálogo da exposição:
“Como podemos atribuir o primeiro lugar a uma fotografia cujo tema não é imediatamente identificável?”
Esta foi uma das questões-chaves discutidas pelo júri do World Press Photo 2010.
Embora alguns entre nós tenham sido atraídos desde o início pela imagem vencedora de Pietro Masturzo, sentindo que ela nos incitava a descobrir algo mais, outros permaneceram indiferentes pela sua falta de contexto imediato. Alguns consideravam que o fotógrafo deve ser capaz de expressar “tudo” numa só imagem, enquanto outros pensavam que este “tudo” seria uma ilusão. Argumentavam que não queriam que lhes dissessem o que pensar, queriam apenas que o fotógrafo abrisse portas de forma criativa, para alimentar a reflexão e despertar a emoção.
A fotografia vencedora do World Press Photo deste ano, que mostra mulheres protestando ao anoitecer nos telhados de Teerã, convida-nos a descobrir uma notícia importante de maneira diferente: calmamente, sem deixarmos de sentir a forte tensão. A sua beleza acrescenta valor à informação.
Todos os membros do júri partilharam a sensação pungente de quão pouco do sofrimento do mundo somos realmente capazes de absorver, quando confrontados com 101.960 imagens concorrentes. Era como se a intensidade do drama tivesse paralisado o efeito visual por se repetir com tanta freqüência.
Olhar para as imagens vencedoras desperta, em cada caso, uma rica e complexa combinação de reações:
O desejo de encontrar formas mais pessoais de comunicação. A sensação do conflito evocado por uma sala de estar bombardeada em Gaza; o vazio que envolve o retrato de um jovem anoréxico; o esquartejamento sistemático de um elefante por camponeses esfomeados; os efeitos devastadores da guerra revelados através de soldados feridos fotografados em residências suburbanas;
Esta foi uma das questões-chaves discutidas pelo júri do World Press Photo 2010.
Embora alguns entre nós tenham sido atraídos desde o início pela imagem vencedora de Pietro Masturzo, sentindo que ela nos incitava a descobrir algo mais, outros permaneceram indiferentes pela sua falta de contexto imediato. Alguns consideravam que o fotógrafo deve ser capaz de expressar “tudo” numa só imagem, enquanto outros pensavam que este “tudo” seria uma ilusão. Argumentavam que não queriam que lhes dissessem o que pensar, queriam apenas que o fotógrafo abrisse portas de forma criativa, para alimentar a reflexão e despertar a emoção.
A fotografia vencedora do World Press Photo deste ano, que mostra mulheres protestando ao anoitecer nos telhados de Teerã, convida-nos a descobrir uma notícia importante de maneira diferente: calmamente, sem deixarmos de sentir a forte tensão. A sua beleza acrescenta valor à informação.
Todos os membros do júri partilharam a sensação pungente de quão pouco do sofrimento do mundo somos realmente capazes de absorver, quando confrontados com 101.960 imagens concorrentes. Era como se a intensidade do drama tivesse paralisado o efeito visual por se repetir com tanta freqüência.
Olhar para as imagens vencedoras desperta, em cada caso, uma rica e complexa combinação de reações:
O desejo de encontrar formas mais pessoais de comunicação. A sensação do conflito evocado por uma sala de estar bombardeada em Gaza; o vazio que envolve o retrato de um jovem anoréxico; o esquartejamento sistemático de um elefante por camponeses esfomeados; os efeitos devastadores da guerra revelados através de soldados feridos fotografados em residências suburbanas;
Reação e resposta à violência absurda dos acontecimentos, que nos oferecem todos os dias novos desafios, obrigando-nos a reagir de novo a conflitos no Iraque, Afeganistão e Gaza; abrindo-nos os olhos para outras tragédias que ainda não estão presentes na nossa consciência coletiva, como a de Madagascar.
Identificação e questões em torno das nossas vidas. Ver como a fotografia pode transmitir magicamente as emoções e aspirações de uma mãe solteira isolada em Detroit; de um confortável pequenique de domingo numa praia de Moçambique; da natureza assombrosa e de esportes estonteantes.
Há muitas maneiras de relacionar estas imagens, mas a informação é sempre o elemento nuclear: você já havia visto fotografias documentando a ocupação de Guiné- Bissau pelos barões de droga? Sabia que uma laranja contaminada pela poluição tem o aspecto da Terra vista pelo espaço? O que são essas nuvens brancas e cônicas sobre Gaza?
Este concurso não pretende elencar prêmios para a profissão numa espécie de hierarquia. Todas as fotografias vencedoras fazem parte de um todo. No seu conjunto, constituem uma declaração sobre o fotojornalismo e sobre o nosso tempo.
Em um ano no qual os orçamentos dos meios de comunicação sofreram cortes severos, quando muitos jornalistas perderam o emprego e o número de encomendas de trabalho fotográficos decresceu drasticamente, a seleção do Worl Press Photo continua a oferecer uma visão única.
Esta seleção não é um inventário de temas mundiais. È uma viagem fotográfica, um quebra-cabeças visual que celebra o ponto de vista do fotógrafo, apresentando o melhor em cada categoria para que se possa refletir, questionar e desfrutar.
Identificação e questões em torno das nossas vidas. Ver como a fotografia pode transmitir magicamente as emoções e aspirações de uma mãe solteira isolada em Detroit; de um confortável pequenique de domingo numa praia de Moçambique; da natureza assombrosa e de esportes estonteantes.
Há muitas maneiras de relacionar estas imagens, mas a informação é sempre o elemento nuclear: você já havia visto fotografias documentando a ocupação de Guiné- Bissau pelos barões de droga? Sabia que uma laranja contaminada pela poluição tem o aspecto da Terra vista pelo espaço? O que são essas nuvens brancas e cônicas sobre Gaza?
Este concurso não pretende elencar prêmios para a profissão numa espécie de hierarquia. Todas as fotografias vencedoras fazem parte de um todo. No seu conjunto, constituem uma declaração sobre o fotojornalismo e sobre o nosso tempo.
Em um ano no qual os orçamentos dos meios de comunicação sofreram cortes severos, quando muitos jornalistas perderam o emprego e o número de encomendas de trabalho fotográficos decresceu drasticamente, a seleção do Worl Press Photo continua a oferecer uma visão única.
Esta seleção não é um inventário de temas mundiais. È uma viagem fotográfica, um quebra-cabeças visual que celebra o ponto de vista do fotógrafo, apresentando o melhor em cada categoria para que se possa refletir, questionar e desfrutar.
Nascidos em Bordéis
Aproveitando a deixa da exposição, comento sobre o filme Nascidos em Bordéis e
coloco o link para o trailer: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=252513&blog=762&coldir=1&topo=3994.dwt
No documentário há uma visita e uma palestra de uma das crianças, Avijit Bucket, à sede do World Press PHoto, na Holanda. O filme desperta comentários elogiosos e também levanta questões polêmicas sobre o etnocentrismo e a noção de “salvar” o mundo. Copio aqui um comentário da revista de cinema Contracampo abominando o documentário e insiro o meu, considerando o aspecto da fotografia abordado no filme. Sem dúvida, a cena da visita do menino Bucket à Holanda nos faz compartilhar do mundo enigmático da seleção das imagens.
coloco o link para o trailer: http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&uf=1&local=1&template=3948.dwt§ion=Blogs&post=252513&blog=762&coldir=1&topo=3994.dwt
No documentário há uma visita e uma palestra de uma das crianças, Avijit Bucket, à sede do World Press PHoto, na Holanda. O filme desperta comentários elogiosos e também levanta questões polêmicas sobre o etnocentrismo e a noção de “salvar” o mundo. Copio aqui um comentário da revista de cinema Contracampo abominando o documentário e insiro o meu, considerando o aspecto da fotografia abordado no filme. Sem dúvida, a cena da visita do menino Bucket à Holanda nos faz compartilhar do mundo enigmático da seleção das imagens.
A fotografia como experiência
“Para quem tem os olhos focados na fotografia, ou já pôde sentir o quanto a linguagem fotográfica pode mexer com nossa maneira de ver o mundo, o filme “Nascidos em Bordéis” é uma boa indicação. Produção de 2004, vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de filmes de Sundance e do Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem, o filme mostra o cotidiano das crianças do bairro da Luz Vermelha, em Calcutá, na Índia. O lugar é conhecido pela miséria e prostituição e a partir da iniciativa de Zana, uma fotógrafa americana que lhes ensina a fotografar, os pequenos começam a registrar com uma câmera fotográfica a vida que os cercam. As imagens fotográficas se mesclam ao filme e vão compondo a narrativa. O universo desse submundo indiano vai sendo descortinado a partir dos olhares das próprias crianças marginalizadas e até então sem um futuro digno a ser vivido. A favor ou não da fotógrafa que tenta “salvar” as crianças do destino que as espera, o que é mais enriquecedor no filme é poder acompanhar o desabrochar dessas crianças a partir da vivência com suas câmeras fotográficas. É poder constatar o quanto a fotografia pode contribuir para as questões da identidade e, ao contrário do que vem acontecendo atualmente, pode fugir à banalização e cumprir um papel ético.”
Teresa Bastos, publicado em 23 de janeiro de 2008 no blog imagesvisions: http://imagesvisions.blogspot.com/2008/01/filme-mostra-como-linguagem-fotogrfica.html
Teresa Bastos, publicado em 23 de janeiro de 2008 no blog imagesvisions: http://imagesvisions.blogspot.com/2008/01/filme-mostra-como-linguagem-fotogrfica.html
Nascidos nos Bordéis, de Zana Briski e Ross KaufmanBorn into brothels: Calcutta's red light kids, Índia/EUA, 2004Nascidos nos Bordéis não é um filme comovente sobre uma mulher que tenta salvar a vida de alguns meninos fadados a repetir a vida criminosa de drogas e prostituição nos guetos da luz vermelha da Índia. É sobretudo um filme de terror. Um filme sobre como uma documentarista, dotada de todas as verdades egocêntricas e etnocêntricas sobre como dar liberdade aos outros, vai num país "exótico e atrasado" para com a arte (a fotografia, o cinema) salvar quem ainda pode ser salvo do mar de lama: as pobres criancinhas. Há um quê de Michael Moore (a professora-cineasta lutando contra a burocracia terceiromundista e preconceituosa da Índia para tirar os vistos de ração de seus alunos), como há um nojento fedor de autopromoção (as crianças sendo entrevistadas pela televisão indiana dizendo como tudo que a tia Zana ensina vai direto pro cérebro, como ela é boazinha e atenciosa, etc.) nessa enquete assistencialista que tenta aplacar a culpa social através de saídas voluntaristas que "fazem a diferença". O voluntarismo, como bem se sabe, serve mais para aliviar a consciência de quem pratica do que para salvar o outro a quem ele geralmente é destinado. Assim, depois que a diretora do filme se esforça para colocar todos os meninos na escola – a toques de caixa, para mostrar que fez sua parte –, as legendas nos informam que a maioria deles voltou para a família. A metáfora é clara: como George W. Bush concedendo aos iraquianos uma democracia que, para princípio de conversa, eles não pediram, tia Zana aparece com seus valores universais para dar "liberdade" a pessoas que vivem num contexto social e existencial em que essa liberdade não é possível. Em Nascidos nos Bordéis, a arte serve como álibi para uma prática invasiva, altamente questionável, e como desculpa para ser bonzinho com os outros e, assim, conseguir suas medalhinhas da Unicef (ou o senso do dever cumprido). Todo o poder à má-consciência. Como no igualmente lamentável Cine Mambembe, a tarefa do artista é agir como elemento invasivo porém carregando valores "universais" para iluminar a vida de pessoas humildes. Efeito "pixote": para um possível fotógrafo de carreira profissional bem-sucedida, quantos conviverão com uma lembrança frustrada de uma caucasiana bem trapalhona? A benevolência cretina de uma documentarista que vai embora enquanto os outros ficam com seus recém-criados desejos artísticos é algo de virar o estômago. Zana Briski jamais deve ter lido O Pequeno Príncipe; nele, se lê: "Tu és responsável por aquilo que cativas". De boas intenções... (Ruy Gardnier)
Revista Contracampo /Pílula, seção crítica