domingo, 23 de agosto de 2009

Da Identidade à Identificação

Foto de Adrien Tournachon e Félix Nadar: estudos fisionômicos do Dr. Duchenne

Exposição e discussão do primeiro capítulo do livro Identidades Virtuais, de Annateresa Fabris:

"A identidade do retrato fotográfico é uma identidade construída de acordo com normas sociais precisas. Nela se assenta a configuração de um eu precário e ficcional - mesmo em seus usos mais normalizados -, que permite estabelecer um continuum entre o século XIX e o século XX, entre uma modernidade confiante na ideologia do progresso e uma modernidade problematizada pela desconstrução pós-moderna."
Pontos abordados:
. Retrato como romance e como história, a partir de Baudelaire.
. Félix Nadar, Julia Cameron e DAvid Octavius Hill como representantes do retrato como romance.
. Eugène Disdéri, o retrato como história e a invenção do formato cartão de visita.
. Questões de pose, vestimenta, ornamentação e de representação da burguesia através da fotografia no séc. XIX.
. Manuais fotográficos.
. O retrato policial e a foto de identidade.
. Os estudos fisionômicos e o uso do retrato pela medicina e ciência
. A pose frontal e de perfil
. Da Identidade almejada pela burguesia oitocentista à identificação para atestado de existência. “Retrato fotográfico como uma imagem que, longe de afirmar a auto-suficiência do eu, remete para a ausência de plenitude do sujeito”, para Schaeffer, que entende que a fotografia confronta o modelo com a precariedade da identidade humana em sua individualidade biológica, psicológica e social, situando-a na esfera do reflexo. O retrato faz o indivíduo alcançar a própria identidade graças ao olhar do outro."
. Para Mário Costa, ‘ a fotografia é uma memória de máquina’.
. A partir de Cézanne e sobretudo com os cubistas, o retrato pode ser visto como especulação puramente plástica. O que menos interessa ao pintor é a concepção do retrato como signo de uma identidade.
. O retrato fotográfico está, sem dúvida, na base da crise e da transformação do gênero pictórico no qual se inspira e do qual deriva boa parte de seus recursos representativos.

O que dizer do retrato fotográfico?

Foto de Lee Miller (1933)
O retrato está em toda parte. Nos jornais, bonecos ou estigmas identitários. Na publicidade, vendendo e chamando nossa atenção para produtos. Na arte, como expressão subjetiva do artista, ou como desconstrução da representação. Nos blogs, para contar do final de semana, apresentar amigos, “demonstrar intimidade pública”. Nos álbuns de família, com ar social, para cultuarmos nossa memória. Com tom irreverente, arrogante, obtuso, aproveitando-se do feio, exagerando no belo, construindo cenas, traduzindo catástrofes e desgraças, o retrato está, parafraseando Susan Sontag, “promiscuamente em tudo”, e é o próprio espelho da fotografia. Ele invade o tempo, desnorteia o real, inventa contextos e registra o documental. É um gênero que passeia pela história e guarda em suas características ora a maneira oitocentista de se traduzir em imagem, ora o tom contemporâneo. Usos sem fim. Possibilidades que destacam o rosto como local de representação do tempo, dos sentimentos, das máscaras, das ausências e do vazio. O gênero permite o que quisermos fazer dele.

domingo, 16 de agosto de 2009

Pesquisa fotográfica: O retrato fotográfico entre documento, biografia e arte#links

http://www.youtube.com/watch?v=wFOZIYfGU1I

O retrato fotográfico entre documento, biografia e arte


Programa do curso 2009.2
Professora: Teresa Bastos
Horário: Segundas e quartas, das 11h10 às 12h50
Local: Estúdio CPM
2009.2
Objetivo:
Proporcionar aos alunos uma imersão na temática do portrait fotográfico a partir de experimentação e aprendizagem prática; reflexão e informação teórica. Explorar o tema a partir de algumas de suas várias possibilidades e usos como: identidade, arte, documento, ficção em contextos e momentos históricos distintos: do século XIX ao período contemporâneo.

Proposta de conteúdo e atividades:
Aulas teóricas com exibição de fotos, filmes e estudo de textos referenciais.
Aulas práticas de fotografia de estúdio e externaAula prática de laboratório Preto e brancoVisita à exposição em cartaz na cidade (a ser definida)
Visita ao acervo fotográfico e conservação do Arquivo Público do Estado
Visita à Reserva Técnica Fotográfica do Instituto Moreira Sales
Participação de convidados com experiência na prática de retratos em áreas distintas: jornalismo, publicidade, produção editorial e artes.
Avaliação
Produção de trabalho de criação (ensaio fotográfico ou monografia) no final do semestre. Realização de pré-projeto no meio do semestre. Presença e participação em atividades propostas ao longo do curso.
Os trabalhos finais deverão ser apresentados e entregues na última semana de aula. O ensaio fotográfico deverá conter além das fotografias, um texto introdutório apresentando o processo de produção da experiência, bem como uma reflexão teórica a ser escolhida pelo aluno, tomando como base questões discutidas ao longo do semestre.
O trabalho monográfico deverá conter no mínimo 5 páginas, corpo 12 e espaço 1,5 e apresentar questões criadas pelo próprios alunos que, de alguma maneira dialoguem com as temáticas trabalhadas pelo curso.
Cronograma
Agosto:
17/08 – Apresentação do curso, conhecimento dos alunos, introdução ao tema do retrato
19/08 – O gênero portrait, algumas questões e definições a partir de vários teóricos. O rosto, o olhar, a pose, a relação de alteridade a partir do retrato, a intimidade, a encenação, os preparativos para a imagem, os usos......
24/08 – Livro Identidades virtuais de AnnaTeresa Fabris sobre o retrato.
26/08 – Descondicionamento do olhar
31/08 – A busca da semelhança do retrato nos primórdios da fotografia do século XIX. Os exemplos de Félix Nadar, Eugene Disdéri e Julia Cameron
Setembro:
2/09 –“ Experimentando o tempo”. Vivência longa exposição no estúdio
07/09 – feriado
09/09 –“Experimentando o tempo “. Vivência curta exposição em estúdio
14/09 – Visita ao acervo fotográfico do Arquivo Público do Estado
16/09 – Texto “O público moderno e a fotografia”, de Charles Baudelaire e discussão sobre fotografia e arte, com apresentação das imagens de Julia Cameron e os pré-rafaelitas.
21/09 – O retrato como biografia. Texto “A ilusão biográfica”, de Pierre Bourdieu e “o portrait fotográfico entre biografia e imagem autônoma”, de Teresa Bastos IN Uma investigação na intimidade do portrait fotográfica, tese de doutorado (2007).
23/09 – Vivência conhecido/desconhecido no campus da universidade
28/09 – Texto A câmara clara , de Roland Barthes, e “ Evangelhos Fotográficos” de Susan Sontag In Sobre fotografia.
30/09 – Exibição das imagens produzidas na vivência e comentários
Outubro:
05/10 – Texto que introduzirá o trabalho de Diane Arbus e o retrato marginal. Que identidade é essa?Estranha, bizarra...Imagens e texto de Antonin Artaud e Autoimagem marginal:fotografias de Evelyn Ruman (1993 – 1997)
07/10 – Filme A pele, um portrait imaginário da fotógrafa americana Diane Arbus (1923 – 1971)(direção de Steven Shainberg, com Nicole Kidman e Robert Downey Junior.2006)
12/10 – feriado
15/10 – feriado?
19/10 – Eduard Steichen, entre o pictorialismo e a revista Vanity Fair. O retrato como interpretação da semelhança.
21/10 – Visita a uma exposição na cidade e redação de um texto a respeito.
26/10 – Auto-retrato. Texto “Olhar um auto-retrato”, de Philippe Lejeune e “O teatro das aparências”, de Annateresa Fabris. Imagens de Cindy Sherman, Florence Henri, Rafael Goldchain, entre outros.
28/10 – Contos “O espelho”, de Guimarães Rosa e Machado de Assis, paralelo com o livro “Um, nenhum e cem mil” de Luigi Pirandello.
Novembro:
02/11 – feriado
04/11 – Os retratos experimentais de Man Ray e Lee Miller . (texto a ser definido).
09/11 – Henri Cartier-Bresson, Alécio de Andrade e Denise Colomb, o ambiente como identidade.
11/11 – Entrega do pré-projeto de trabalho final e discussão sobre tema de produção de retratos em estúdio e externa.
16/11 – O retrato no fotojornalismo e na publicidade
18/11 – O retrato na arte contemporânea e a experiência dos arquivos (Boldansky, Rosângela Rennó) Arthur Omar, Vik Muniz,JR,Chuck Close,Florence Chevalier, Marc Trivier. Texto de Régis Durand. Texto de Antônio Fatorelli.
23/11 – produção de retrato externo e em estúdio
25/11 – produção de retrato externo e em estúdio
30/11 – produção de retrato externo, em estúdio e uso do laboratório
Dezembro:
02/12 - produção de retrato externo, em estúdio e uso do laboratório
07/12 - Edição das fotos e eleição das imagens mais representativas do tema
09/12 – Finalização do curso
14/12 – Apresentação e entrega dos trabalhos finais
16/12 – Apresentação e entrega dos trabalhos finais
Bibliografia básica
ARQUIVO NACIONAL. Retratos Modernos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.BARTHES, Roland. A câmara clara, tradução Julio Castañon Guimarães. 3a Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
BASTOS, Maria Teresa Ferreira. Uma investigação na intimidade do portrait fotografico. Tese de doutorado, PUC-Rio, 2007.
BENJAMIM, Walter. Magia e Técnica, arte e política, tradução Sérgio P. Rouanet. 7a Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
COELHO, Teixeira (Org). A modernidade de Baudelaire. Trad. Suely Cassal. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.FABRIS, Annateresa. A identidade virtual. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.
HUBBERMAN, Georges Didi. O que vemos, o que nos olha, tradução Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1998.
MANGUEL, Alberto. Lendo Imagens, uma história de amor e de ódio. Tradução Rubens Figueiredo, Rosaura Eichemberg, Cláudia Strauch. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NOVAES, Adauto. O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.SONTAG, Susan. Sobre fotografia, tradução Rubens Figueiredo. Sao Paulo:Cia das Letras, 2004.