domingo, 31 de maio de 2009

A delicadeza como escolha

© Foto de Julia Margareth Cameron. The red and white roses, 1865

© Foto de Teresa Bastos. Rio de Janeiro, 2004

© Foto de Edouard Boubat. Cerejeira japonesa, Parque de Sceaux, Paris, 1989

© Foto de Tina Modotti. Sem título, Mexico, 1926 -1929.

© Foto de Edouard Boubat. India, 1971

© Foto de Robert Frank. Mary, 1957.

© Foto de Edouard Boubat. Lella, amor de juventude, Bretagne-França, 1947.

© Foto de Marcos Semola. Londres, 2007, exposição em cartaz no Oi futuro

© Foto de Edouard Boubat. La petite fille aux feuilles mortes, 1947.

© Foto de Jean Marc Bouju. Filho abraça o pai em campo em campo de prisioneiros. Iraque 2003

© Foto de Fernando Rabelo. Mercado Central de Belo Horizonte, 1983.

sábado, 30 de maio de 2009

Um pouco mais de Delicadeza

Marc Riboud, Protesto contra a Guerra do Vietnã, EUA, 1967

Pesquisando sobre delicadeza,deparo-me com alguns textos e artigos em que ela é vista de forma piegas. Como se no mundo pós-moderno em que vivemos não tivesse espaço para sermos delicados.Ou que delicadeza não possa ser uma força. Pois temos pressa, temos que ser determinados, decidirmos rápido. Na opinião de muitos, temos quase que matar um leão a cada dia e, sendo delicados, não conseguiremos! Para alguns, ser delicado é ser antigo, ultrapassado. E quem quer ser antigo? Quando precisamos provar sempre o contrário, que estamos atualizados, antenados com tudo e com todos.
Apesar da cena contemporânea prever a multiplicidade do tempo, a todo instante escavamos o passado e o transpomos para o devir do futuro, sendo o presente esse trânsito, muitas das leituras tratam o passado como fixo, ordenado, como se isso fosse possível. Mas que passado trazemos à tona? Não um cristalizado, com ordem estabelecida. Nesse, a delicadeza é tratada como piegas.
Pensando em termos de delicadezas, o importante para mim nesse exercício proposto de inventar, construir e reproduzir em imagem e, ainda mais difícil, a partir do retrato, a delicadeza, é tentar trazer à tona, esse sentimento com texturas, cores, atmosferas, iluminação, composição, que a fotografia permite. Mas, sobretudo, pensá-la em gestos, atos, momentos em que através da ação ela possa fazer a diferença, para que possamos nos sentir um ser humano melhor.É nesse aspecto que a delicadeza se torna ética e potente e o texto do Denilson, que reproduzo alguns trechos abaixo, fala sobre isso.Além de ato, a delicadeza é uma busca, um entregar-se. O fato de nos propormos a pensar sobre ela já de alguma forma a traduz em nós e no nosso olhar.Denilson usa o cinema para discutir e espelhar a delicadeza. Nosso desafio é expressá-la através da imagem fotográfica.Vou postar várias imagens onde percebo a delicadeza para inspirá-los em suas composições.A foto de Marc Riboud, de 1967, registrada numa Passeata contra a guerra do Vietnã, EUA, em 1967 é o sinônimo da força da delicadeza. Um gesto forte, ousado e corajoso que evidencia a delicadeza por alguns elementos da composição da imagem como a flor, a mulher, o tecido leve de sua roupa e seu olhar de desprendimento, muito mais do que de ameaça. Ela lança um desafio a partir de sua delicadeza e a torna uma arma potente. Por outro lado, o olhar do soldado é muito mais de medo e retração, do que de violência. Essa foto correu o mundo e foi utilizada como símbolo da luta pela paz.



Trechos do livro "A Delicadeza: estética, experiência e paisagens", do professor da ECO, Denilson Lopes publicado em 2007 pela Editora UNB com apoio da FINATEC.
“Tudo começou, começa com o desejo de falar sobre a beleza hoje em dia, da possibilidade da estética, após os Estudos Culturais. Uma estética adequada a uma produção cultural e artística que se firmaram após os anos 70 do século passado, quando cada vez mais os meios de comunicação de massa se tornam parte integrante da experiência cotidiana das sociedades contemporâneas. Em contraponto à violência, à crueldade e ao excesso, tive como guias a delicadeza, a leveza e o banal.
“A delicadeza não é, portanto, só um tema, uma forma, mas uma opção ética e política, traduzida em recolhimento e desejo de discrição em meio à saturação de informações.”

“Os ensaios têm um fio condutor na delicadeza, embora ela nunca se explicite de todo. A delicadeza se traduz desde a busca de uma sutilidade conceitual para apreender os trânsitos entre filmes, romances e músicas de diferentes culturas até a seleção dos trabalhos escolhidos de Kielowski, Bressane, Rafael França a Terence Davies, passando pelo cinema brasileiro a poemas de Carlito Azevedo e uma poética da intimidade, presente nos romances de Adriana Lisboa e João Almino, que se contrapõe a uma estética da violência e do excesso tão valorizada pela crítica e pelo público hoje em dia.”


“Inútil beleza
A tudo rendida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Arthur Rimbaud (trad. De Augusto de Campos)

“Toda uma vida naqueles flocos de neve que imaginei antes de ver. Penugens na janela. Um mundo todo de delicadezas. Eu só aqui olhando minhas lembranças enquanto a noite avança. Não mais estórias. Estou cansado do esforço de contar. Um assobio corta a noite. Poderia nunca mais parar. Paisagem inútil”. (Denilson Lopes)

“Que destino teria a beleza hoje em dia? Seria o de Gustav Von Aschembach em "Morte em Veneza" (1971), de Luchino Visconti? Quanto mais ele procura a beleza, mais se aproxima da morte. Seria essa impossibilidade o destino do esteta hoje em dia? Seria uma recusa desesperada da mediocridade como no suicídio de Mishima? (..)
Penso ainda em "Beleza americana" (1999), o filme de Sam Mendes. Lester, o protagonista, se encanta por Angela, amiga de sua filha Jane, numa coreografia antes de um jogo na escola em que música e desejo se fundem. Ele larga seu emprego, começa a fazer musculação, volta a ouvir rock, procura recuperar sua juventude. Ainda que essas cenas sejam tratadas pelo diretor como ridículas, patéticas, é a partir desse momento que o protagonista se modifica. No mesmo filme, o jovem Ricky é quem mais parece traduzir a possibilidade transformadora da beleza na vida cotidiana. Ele filma o que o rodeia, buscando não só ser voyeur, mas estar-no-mundo. Ao relatar a Jane o que de mais belo tinha filmado, um saco que por 15 minutos volteava à sua frente, ele se aproxima como nunca até então de outra pessoa. É pela beleza que acontece esta possibilidade, por breve que seja, de estar-no-mundo; trata-se mais de uma “intensidade” do que de uma “elevação”. (Lyotard, 1998, p-111)

“Falar da beleza não é um discurso inútil. Me coloca , ao mesmo tempo, no mundo novamente reencantado (BAUMAN, 1997, p-42) e na minha própria solidão, ao “reunir/ cada fragmento nosso, perdido, / de dor e de delicadeza” (Carlito Azevedo, “Na Gávea”). Ou seria este desejo, isto tudo ilusão? A beleza e nada mais sigo.”


“Mas o que fazer quando nosso cotidiano se transformou em experiência multimidiática? Acelerar, ir mais rápido, ser mais veloz, aderir ao simulacro ou estabelecer pausas, silêncios, recolhimento?”

Na introdução do livro, Ana Chiara pergunta: “O que é cotidiano? Posso ainda pensar o cotidiano como cotidiano? Lembro que para minha geração o cotidiano talvez fosse o contrário da esfera pública para onde muitos se bandearam pegando em armas, fazendo política, sexo e rock and roll. Talvez fosse o espaço rejeitado da mediania, o espaço tedioso da repetição, do mal-estar, do nada de extraordinário acontecendo. (..) Lembro que fugíamos do cotidiano em busca de quê? Nem me lembro mais, talvez de aventura....Pergunto se nestes dias de relações esgarçadas, da opressão de um sistema de trabalho competitivo e exaustivo, da influência e sobre determinação de imagens invasivas e da própria violência urbana, pergunto se nestes dias o cotidiano não seria uma elaboração defensiva diante da precariedade e imprevisibilidade das vidas comuns ameaçadas de todos os lados, em todos os níveis.

De que cotidiano ele (Denilson) trata afinal? Quem poderia negar os afetos violentos do cotidiano: medo, raiva, inveja, ciúme, sentimentos inconfessáveis e por isso mesmo todo-poderosos?(..)
A palavra cotidiano fica boiando na minha frente. Ela brilha como uma ilusão. Como uma bolha de ar, pode ser desfeita a qualquer minuto. Basta para isso que um homem decida pegar um avião e entrar com ele numa torre. Basta pôr um cinto de explosivos e viajar no metrô.. Basta estar passando pelas grandes vias do Rio no meio de um tiroteio.(..) Talvez o cotidiano contemporâneo seja essa possibilidade do terror a cada momento ou a impossibilidade do cotidiano. Além, é claro, do terror do cotidiano. Da mesmice. Da chatice. Da caretice. Ou talvez seja apenas o meu terror cotidiano”.

Edward Steichen e o retrato no movimento pictorialista



domingo, 24 de maio de 2009

Cindy Sherman: a imagem da imagem


Nesta segunda, dia 25, contaremos com a presença da pesquisadora Danusa Depes que, a partir da artista americana Cindy Sherman, apresenta e discute questões relativas a auto-retrato, fotografia, autoria, arte e representação.
"O que é um retrato? Um signo dotado de dois objetivos fundamentais _ descrição de um indivíduo e inscrição de uma identidade social. E o que é uma auto-retrato? Uma encenação de si para o outro, como um outro", afirma Philippe Lejeune.
A encenação de si, como um outro é o que problematiza a idéia de auto-retrato a partir dos recursos técnicos usados no momento da tomada que lhe permitem retirar da imagem qualquer possibilidade de legibilidade plena, convertendo-a numa mera silhueta.
Uma concepção como os trabalhos da artista visual Cindy Sherman não pode ser colocada na categoria do auto-retrato pelo simples fato de saber-se de antemão que aquela que está ali é a artista. A operação é mais complexa pelo fato de envolver a fotografia e não a pintura. Se o pintor tem a possibilidade de observar a feitura do próprio retrato, pincelada após pincelada, naquele espelho no qual se converteu a própria tela, o fotógrafo, ao contrário, não podendo observar a própria pose, goza de uma liberdade muito maior: não só pode levar ao extremo o artifício da encenação, como pode agir metaforicamente e denominar auto-retrato o que quer que seja.
A imagem que domina o horizonte contemporâneo nunca é uma presença pura, e sim reduplicação, multiplicação, sobreposição de elementos heterogêneos, códigos, estratificações e reproduções de imagens. A imagem da imagem é uma mensagem que explicita imediatamente o próprio código, que sublinha a semelhança em detrimento da originalidade, impõe a repetição enfatizada de si, ou melhor, a reprodução permanente e auto-reprodução.
Não obstante, o auto-retrato não é simplesmente despojado de toda dimensão subjetiva para transformar-se num recipiente vazio, capaz de abrigar uma noção complexa de identidade. Cindy Sherman propõe bem mais: deixando de lado a função representativa do retrato fotográfico. Pergunta-se: o que é afinal a memória retida pela imagem fotográfica? Um momento ou uma forma? Sherman responde: o que resta é uma forma. O sujeito nada pode nesse processo: o que ele tem a exibir é produto de um aparato que o transforma à sua revelia, conferindo-lhe uma identidade fictícia e epidérmica. Uma identidade bem frágil, fruto de uma causalidade que continuará a imprimir alterações naquela que é considerada a marca distintiva de todo indivíduo: sua efígie. (FABRIS: 2004)
Danusa Depes, a partir dos textos de Annateresa Fabris, “ O teatro das aparências” IN Identidades Virtuais e Philippe Lejeune, “Olhar um auto-retrato” IN O pacto autobiográfico, de Rousseau à Internet.
Danusa é Mestre em Estudos de Literatura (PUC-RJ), com o projeto Imagens Contemporâneas (do Sublime) - um estudo em torno da experiência estética. Foi Diretora e roteirista na Cena Tropical Comunicações, onde produziu onze peças audiovisual para TV Futura e ainda Coordenadora do Núcleo de Cultura Visual, onde implementou propostas na área de Cultura Visual e Inclusão Social.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Delicadeza possível do fotógrafo americano Robert Mapplethorpe




Entre os anos 1979 e 1989, o fotógrafo americano Robert Mapplethorpe se dedicou, entre outras coisas, a fotografar flores e corpos, mas sem o apelo sexual explícito de suas fotos mais famosas. As imagens são produzidas com um delicado tratamento de luz e em uma delas, acima, a modelo é Patti Smith, poeta e cantora. Uma exposição com imagens "delicadas" de Robert pode ser vista em São Paulo, na Galeria Fortes Vilaça. http://www.fortesvilaca.com.br/exposicoes/atuais/1/foto-0.html e
Fundação do artista http://www.mapplethorpe.org/

segunda-feira, 18 de maio de 2009

DELICADEZA

Man Ray, Nusch and Sonia Mosse
Um gesto, uma cor, uma textura. Um certo olhar, um conjunto de atos .Um personagem, um sonho, uma inspiração. Posturas belas e éticas. Em muito da vida podemos encontrar, deparar, enfim, buscar, a delicadeza....
Texto de Rubem Alves "Tempo da delicadeza" e Chico Buarque cantando a delicadeza aqui http://entre-imagem.blogspot.com/

domingo, 17 de maio de 2009

Olhar um auto-retrato

Florence Henri, Auto-retrato, 1928

"O auto-retrato é o único gênero pictórico que despertou em mim o que Barthes descreve tão bem a respeito da fotografia, na Câmara Clara, de ter diante dos olhos não uma imgem do passado mas um vestígio inscrito diretamente por ele. Portanto, se o pintor aparece, a pintura desaparece. Com a fotografia , o auto-retrato é muito praticado e muito inventivo. Como não podemos nos ver, ficamos mais livres para imaginar, nos encenar e até brincar com a etiqueta para chamar qualquer coisa, por metáfora , de auto-retrato". (Philippe Lejeune)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Exposição "Retrato sem trato" será aberta nesta quinta, dia 14 na Galeria Vitrine da ECO

Foto de Camila Lanha integrante do ensaio final "Retrato sem trato", que acabou nomeando a exposição
A exposição será aberta às 18 horas e somente nesse horário serão projetados os ensaios fotográficos dos alunos Adriano, Priscila, Julia, Camila, Erik e Louise.
A intenção da exposição é exibir os trabalhos desenvolvidos ao longo do curso “O Retrato fotográfico entre documento, biografia e arte”, do segundo semestre de 2008. A idéia é mostrar as imagens não tendo em mente um fim em si mesmo, mas sim o processo para obtê-las. Não saíamos durante o curso com a intenção de somente obter as fotografias, mas de vivenciar a experiência que nos levaria até elas. Era como se houvesse um segundo olho, um observador em cada um dos alunos. A proposta era fazer “se vendo fazer”, mas com total abertura para a intuição, que é uma das grandes qualidades do fotógrafo. Claro que a consciência desse processo surgia à posteriori, depois do trabalho feito. Mas foi esse o grande exercício do curso, tentar ecoar a parte teórica com a experiência prática.

Dessa maneira, nosso objetivo é mostrar o “como’ e não o “que”. E, nesse aspecto está em jogo um conjunto de questões que nortearam a aquisição do aprendizado sobre o retrato fotográfico ao longo do semestre passado. Antes de tudo, a proposta maior era fazer as atividades com prazer, carregando consigo olhos perceptivos e atenção aos sinais pessoais de emoção. A intenção era não se antecipar em prol do objetivo, mas percorrer o caminho.
Agora, para mostrar o que foi feito, tentamos não perder de vista o mesmo conceito. Nem sempre estaremos diante de imagens as mais apuradas de novos fotógrafos. Não é essa estética que se pretende mostrar, mas imagens que fizeram sentido para um grupo muito especial de pessoas que estiveram juntas durante quatro meses.

Além dos exercícios coletivos, de fotografar Conhecido/Desconhecidos e retratar a Melancolia, há ainda os trabalhos finais desenvolvidos individualmente. As temáticas foram variadas, mas é possível diagnosticar um paralelo entre eles: o efeito que pensar o processo causa nas pessoas.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Experimentando o tempo


O tempo, além de ser uma questão filosófica, para a fotografia é também delimitador de práticas e de evolução não só técnica, mas conceitual. Nos primórdios da fotografia falava-se em minutos, depois segundos e hoje registramos uma imagem em frações de segundos. Na próxima aula vamos experimentar tanto como modelo como quanto fotógrafo esses limites do tempo. A imagem acima expressa bem o ato de fotografar com tempo longo de exposição no século XIX. Era necessário que se fixasse um suporte para a cabeça para que os modelos não se mexessem.

domingo, 3 de maio de 2009

Annie Leibovitz – A vida através das lentes


O documentário "Annie Leibovitz , a vida através das lentes" será exibido na aula de 4 de maio e revela muitas das faces da fotógrafa americana que fez nome nos Anos 70 como fotógrafa e editora da revista Rolling Stone . Depois incursionou pelo mundo da moda e das celebridades através das publicações Vanity Fair e Vogue. Porém, não só isso faz parte de seu extenso portfólio; os horrores provocados pela guerra em Sarajevo e Ruanda também foram documentados por ela.


Informações Técnicas

Título no Brasil: Annie Leibovitz – A Vida Através das Lentes

Título Original: Annie Leibovitz: Life Through a Lens

País de Origem: EUA

Site Oficial: Estúdio/Distrib: Imagem Filmes

Direção: Barbara Leibovitz

Gênero: Documentário

Tempo de Duração: 79 minutos

Ano de Lançamento: 2006