terça-feira, 28 de outubro de 2008

Aula prática de Melancolia terá presença do fotógrafo Fernando Rabelo


Para as duas aulas de estúdio e externa com o tema Melancolia, vamos contar com a presença do fotógrafo Fernando Rabelo, que trabalhou para os principais jornais do país como O globo, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e ficou durante 13 anos no Jornal do Brasil, do qual foi editor de Fotografia. Fernando trabalhou ainda para a Editora Record, onde fazia retratos de divulgação de escritores, foi um dos coordenadores de fotografia dos Jogos Panamericanos e atualmente é free-lancer. Recentemente acompanhou o candidato à Prefeitura do Rio pelo PT, Alessandro Molon, nas últimas eleições. É editor do blog sobre fotografia http://www.imagesvisions.blogspot.com/, que acaba de completar um ano de postagens diárias e ininterruptas e também autor do livro Tributo à Lagoa, editado em 2000. Sua mais recente exposição “Imagens de um flâneur brasileiro em Paris”, que foi inaugurada no ano passado no Centro Cultural Justiça Federal no Rio, está sendo exibida nas Alianças Francesas de 14 capitais brasileiras. Fernando irá acompanhar um pouco do trabalho no estúdio e no campus.
Aproveitem essa participação valiosa!!!!

Melancolia


Para as duas próximas aulas, dia 29 de outubro, quarta-feira e 10 de novembro, segunda-feira, a turma será dividida em duas e iremos produzir retratos cujo tema é:melancolia.

O link http://saisdeprata-e-pixels.blogspot.com/2007/11/evoluo-da-melancolia.html traz comentários em português , resumo e imagens da exposição "Mélancolie, génie et folie en Ocident", que me inspirou para sugerir o assunto. O catálogo está na pasta. A intenção do trabalho é que cada um crie um retrato que expresse melancolia. O tema é amplo, profundo e pleno de signos, interpretações e representações visuais. Os que quiserem se inspirar deliberadamente em imagens já criadas parodiando-as ou recriando, copiando...Nosso desafio, no entanto, será deslocar da questão da identidade (nosso último exercício), de reconhecer no outro alguém conhecido ou desconhecido, para, nesse caso, retratar um sentimento, um estado de espírito, um tema que atravessa a história do ocidente desde a Antiguidade. Com diferentes nomes, formas, a melancolia desperta o interesse de médicos, filósofos , artistas, escritores.

No dia 29
Turma do estúdio: Louise, Micael, Marcelo Brazil, Marcelo Dantas, Erik,Camila, Alexandre, Aline, Juliana.

Turma de externa: Sarah, Julia, Mariana, Priscilla, Giuliana, Adriano, Renata Miranda, Luíza Magalhães, Guilherme e Carina.

Na aula seguinte alternam-se as turmas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Aula 20 : 22 de outubro


Aula 19: 20 de outubro


Palestra do fotógrafo convidado : Aguinaldo Ramos
Vice-presidente da ARFOC - Rio.

O retrato no fotojornalismo
Para Aguinaldo Ramos, “na hora de fotografar, a importância relativa do fotografado não é questão tão fundamental assim para o fotojornalista... Ele está acostumado a tratar todas as pessoas como iguais. Pelo menos, as que entram naquele pequeno espaço retangular à frente de sua câmara e do seu clique. O desafio que lhe é constante é a “grande foto”. Qualquer assunto pode dar uma
grande foto, não é necessariamente o tema que fará a diferença. No caso do retrato, não é preciso que o fotografado seja uma celebridade(...)
O repórter-fotográfico entende que há um espaço a ocupar, que suas escolhas se
tornarão a fotografia que a sua máquina vai registrar. Assim, não vê apenas a pessoa à sua frente, mas também suas (de ambos) circunstâncias. Não deixa jamais de ficar atento ao entorno, ao ambiente, aos movimentos, em seus aspectos físicos e nos sentidos simbólicos. Os objetos disponíveis, se não sugerem significados correlatos às atividades ou às condições do fotografado (digamos, um caminhão atrás de seu motorista...), servirão, ao menos, para algum
jogo visual que diferencie sua foto em relação a outras possíveis (entre infindáveis
alternativas, por exemplo, deixar cair sombras sobre uma pessoa desanimada ou triste).
Muitas vezes desvalorizado pelo próprio fotojornalista (e sequer considerado
fotojornalismo em algumas instâncias, aquelas que supervalorizam o registro dos fatos em sua dinâmica), o retrato é uma categoria em geral tão pouco prestigiada, que chega a ter entre os repórteres-fotográficos um apelido pejorativo: “boneco”...
”Fazer um boneco”, como diz o jargão fotojornalístico, é expressão usada com
freqüência nas redações. Sua aplicação começa no momento em que o repórter-fotográfico recebe a tarefa (para ele, em geral) ingrata de sair da redação e, às vezes, atravessar grande parte da cidade para fotografar não mais do que uma única pessoa. Continua quando esta pessoa (que não estará fazendo nada de especial, a não ser esperá-lo chegar...) simplesmente olha para a câmara do fotógrafo e abre seu melhor sorriso, à espera do clique. Ou, quando elaaceita qualquer sugestão do fotógrafo, por mais estranha que possa parecer, desde plantar bananeira até subir no telhado, o que só acontecerá, porém, se estiver convicta de que terá muito a ganhar com a promoção de sua imagem após a publicação da fotografia. E pode terminar com o retorno à redação do, a essa altura, mal-humorado profissional, quando ouvirá dos colegas relatos entusiasmados sobre as grandes fotos que acabaram de fazer, registros dos
principais acontecimentos da cidade, fotos candidatas à primeira página...
Este seria o ponto de vista de repórteres-fotográficos empregados na imprensa,
funcionários de um jornal diário. Disputando espaço nas páginas, não é de estranhar que desenvolvam alguma resistência à tarefa, para eles prosaica, de “fazer bonecos”, de tirar retratos...
Para os fotógrafos de revistas, o retrato é tarefa mais habitual e também mais
valorizada. Numa revista, não é difícil que a principal fotografia de uma edição seja um retrato e é muito freqüente que venha a se tornar a própria capa.
Para um terceiro grupo, os free-lancers (autônomos que ganham pelas “saídas”158 que realizam), fazer um retrato, sendo trabalho remunerado, não é um desmerecimento, tem até suas vantagens... “Bonecos” costumam ser as mais fáceis e mais rápidas tarefas, dentre todas as que podem ser solicitados pelas redações, e esta boa relação custo-benefício também tem o seu valor...
O “boneco” no fotojornalismo
Será o boneco, o retrato, uma forma de fotojornalismo?... Evidente que sim. Em
primeiro lugar, considere-se que no fotojornalismo não há, praticamente, distinção entre o retrato e a reportagem propriamente dita. Toda reportagem, no seu transcorrer, tende a incluir retratos. Ainda que a matéria não se prenda a pessoas ou grupos (por exemplo, na cobertura de um evento tipicamente coletivo, um dia de sol na praia), é quase certo que no andamento do trabalho surgirão “personagens”, pessoas que, pelas suas declarações ao repórter ou por
seus gestos ou atos, ganharão destaque no texto. E faz todo sentido, para o resultado da reportagem, que sejam fotografadas individualmente.
Quando a indicação da tarefa é fotografar uma única pessoa, durante uma entrevista ou
para ilustrar declaração prévia ou mérito específico, estamos no âmbito do “boneco”, do retrato para fins jornalísticos. De um modo geral, não chega a haver contestação formal contra o caráter fotojornalístico deste tipo de tarefa, mas cabe, neste momento, relembrar a
resistência que muitos repórteres-fotográficos têm a ela.
A grande restrição (quando chega a ser explicitada) aparece na reclamação, um pouco mais sofisticada, de que se trata de uma fotografia em que não se faz o registro de, para tentar, simploriamente, definir o que é notícia um fato em progressão, de um acontecimento, de um evento. Ao contrário, não está acontecendo nada: o fotógrafo é que tende a criar a imagem. Contra tal argumentação é suficiente fazer uma comparação entre retratos e as reportagens do tipo ambiental ou turística, quando, nestas, são fotografados, por exemplo, os amplos espaços de uma região despovoada: nos termos restritos de fotojornalismo sugerido por esta posição, também não está acontecendo praticamente nada... No caso do retrato, pelo menos, o objeto da foto, a sua matéria-prima, é um outro ser humano.
A dificuldade principal
São prolegômenos... O grande problema do retrato parece ser a quase ausência de barreiras entre o fotógrafo e o fotografado. Diga-se logo, é um incômodo mútuo: os fotografados poderão se sentir altamente invadidos, os fotógrafos também terão que superar limitações interiores... Esta proximidade excessiva pode, muitas vezes, ser desagradável, às vezes até forçada, para ambos os lados. E talvez seja este o grande problema a envolver o retrato. Uma das grandes qualidades do fotojornalista costuma ser a frieza diante do fato, uma quase indiferença, resultado de um treinamento emocional que a própria prática lhe dá. Na tarefa do retrato encontramos situações de timidez, vergonha, intimidação, irritação, para citar
algumas... Muitos fotógrafos dizem ser mais cômodo fotografar, por exemplo, um tumulto de rua a “fazer um boneco”. Muitos fotografados sentem-se melhor em falar para uma grande platéia do que em posar para um retrato...
Evidentemente, é a ênfase negativa, a das dificuldades. Para outros fotógrafos, um
retrato é um manancial. Estes se sentem completamente à vontade, fazem do retrato uma especialidade, a sua epifania. Questão de personalidade, de aprendizado das técnicas e até, em certas histórias de vida, de falta de opções... Importa acreditar que fazer um retrato não é uma
forma de tortura contra o fotografado, nem um gesto de autoflagelação do fotógrafo. Logo por isto (independente do resultado que se consiga ou do uso que se dê), o retrato já demonstra ter características do fotojornalismo. Fazer o retrato de uma pessoa qualquer com quem não se tem vínculos afetivos ou comerciais é, em toda a sua máxima expressão, trabalho para um repórter-fotográfico.

FORMAS DO RETRATO FOTOJORNALÍSTICO
Mas, o boneco... (é hora de abandonar o termo, por conta da qualidade do que temos à frente), digo, o retrato também pode resultar em fotos muito especiais, muitas delas, sem dúvida, merecedoras do epíteto “históricas”. Mas, o que pode fazer de um retrato uma foto histórica?... Pelas escolhas dos depoentes, a resposta mais propícia é, aparentemente, “a personalidade do entrevistado”...



Aula 18:13 de outubro


Exibição e comentários sobre o documentário "Janela da alma", de João Jardim e Walter Carvalho
Sinopse: Dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual, da miopia discreta à cegueira total, falam como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo. O escritor e prêmio Nobel José Saramago, o músico Hermeto Paschoal, o cineasta Wim Wenders, o fotógrafo cego franco-esloveno Evgen Bavcar, o neurologista Oliver Sacks, a atriz Marieta Severo, o vereador cego Arnaldo Godoy, entre outros, fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão: o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade .
Alguns depoimentos presentes no filme:
" A maioria das imagens que vemos estão fora de contexto... Ter tudo em
demasia significa não ter nada. Temos tanta imagem que não prestamos
atenção em nada." (Win Wenders)
"De alguma forma somos cegos de sensibilidade, afeto e visão interior"(José Saramago)
"Olhando é tanta coisa ruim que a gente vê, que atrapalha a visão das coisas que a gente quer fazer na vida". (Hermeto Pascoal)
Comentário de Cristina Ribas, na revista Alceu, publicada pela PUC-Rio:
"O enfrentamento contemporâneo é uma flanêrie às avessas. São as imagens que correm,
desenfreadas, na frente dos passantes os quais, freqüentemente, se ressentem da conges-tão
de signos que não conseguem significar. Não ver, ou poder escolher o que enxergar
talvez configure uma rica possibilidade significativa. Ou uma questão de sobrevivência."

Aula 17; 8 de outubro

Comentários e entrega dos pré-projetos dos trabalhos finais
Alunos que vão fazer ensaio fotográfico:
Julia - Retratos de dança
Sarah - Paródia de retratos publicitários
Guilherme - Identidade e personagem
Luísa Magalhães - Identidade e personagem
Erick - Retratos de bailarinas
Alexandre - Questões de alma e identidade
Marcelo Dantas - Entre o profano e o religioso
Mariana - Identidade e cidade
Louise - Retrato e palhaço
Juliana - Texto e imagem de conhecidos e desconhecidos, corpo inteiro e rosto
Micael - Texto e imagem de conhecidos e desconhecidos, corpo inteiro e rosto
Marcelo Brazil - Retratos de Making off de vídeo
Priscilla - Fotos de aniversário infantil
Giuliana - A foto 3x4, questões de identidade e representação
Camila - Retratos sem rosto
Análise crítica
Carina - As fotografias de Bob Gruen e Anton Gorbijin e o mundo das celebridades
Adriano - Fotógrafo cujo trabalho tenha como marca o cuidado com a produção
Renata Miranda - David LaChapelle www.lachapellestudio.com
Aline - Christiano Júnior e os retratos de negros do século XIX
Já estão na pasta da Xerox alguns textos que podem ajudar na elaboração da reflexão e produção dos trabalhos.

Aula 16: 6 de outubro











Vivência fotográfica no Campus
Qual a sensação de retratar pessoas conhecidas e desconhecidas? O que muda? Como nos colocamos, ao fotografarmos e ser fotografados, diante do outro que conhecemos? Como nos aproximamos de quem desconhecemos "ainda" para fazermos a foto? Fotografar é conhecer? Que intimidade é possível? Depois da foto feita, o espectador percebe a diferença se o portrait é de um conhecido ou não?
A fotógrafa francesa Denise Colomb dizia: "eu não conheço as pessoas, eu as fotografo".
Foi para experimentar e pensar sobre essas questões que os alunos saíram a campo e no total foram produzidas mais de quatrocentas fotografias. Editamos cinquenta imagens que estão disponíveis no blog. Cada um retratou à sua maneira, com a própria câmera digital. A soma dos olhares de todos nos revela o cotidiano do campus com alguns de seus alunos, funcionários, visitantes e muitas histórias vividas e contadas......

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Os primeiros mecanismos fotográficos (início do séc. XIX):


Daguerreótipo (1835)
O invento de Daguerre (1787-1851) utilizava placas de cobre prateado com iodo, introduzindo vapores de mercúrio para as imagens capturadas. Era um equipamento que, superando os resultados do Diorama, deu uma melhoria à qualidade das imagens, graças a melhores ópticas, imprimindo perfeição aos detalhes e tons modelados.
Seus inconvenientes eram o peso e o preço elevados do material e de sua “farmácia”, além do cuidado de inverter direita/esquerda do objeto. O tempo de exposição era elevado: entre 15 e 30 minutos, afastando a execução de retratos.

Calótipo (1840)
Com esse invento patenteado por Talbot (1800-1877), conseguiu-se diminuir o tempo de exposição de 1 a 2 minutos. Desenvolveu a captura de imagens latentes que tinham uma maior facilidade de utilização, mais leveza, rapidez de execução e material resistente. O calótipo utilizava o papel com nitrato de prata e sal de cozinha para imprimir as imagens.
Pecava pela idéia de duplicação da imagem (primeiro extraia-se o negativo e depois o invertia para um resultado real desejado). Ainda, esse mecanismo era contraposto com a qualidade realística e documental do daguerreótipo, já que tinha um caráter mais artístico.

Colódio úmido (1851)

Inventada pelo inglês Frederick Scott (1813-1857), era um substância pegajosa de boa aderência em vidros, composta por algodão-pólvora dissolvido em éter alcoólico que, quando umedecido, absorvia bem o nitrato de prata.. Sendo o éter uma substância muito volátil o tempo desde a captação (30seg. a 2min.) até a revelação das imagens não passava de 15 min. Ainda a usando a superfície do papel.

Gelatino-brometo de prata (1878)

Nesse ano, Charles Harper Bennet(1840-1925) que avança sobre os estudos de Richard Maddox de substituir o colódio pela gelatina, aumenta consideravelmente nas suas experiências, a sensibilidade das placas, diminuindo o tempo de exposição para instantâneos de 25 centésimos de segundo. Usava principalmente o papel, mas já surgiam nos alternativas de forte ascensão como a celulose, semente dos filmes que tenderão a serem mais flexíveis, postos em rolos e tornarem os inventos mais portáteis e populares.

Aula 15: 1 de outubro


Texto: “O público moderno e a fotografia”, de Charles Baudelaire.
Comentários sobre o texto, a relação pessoal entre o poeta e o fotógrafo Félix Nadar; exibição e comentários sobre as fotografias e a vida de Nadar.
Avesso à má condução do fenômeno da fotografia, o poeta deixa claro, em sua célebre crítica do Salão de 1859, que a arte nada tem a ver com a reprodução exata da natureza. Em “O público moderno e a fotografia”, Baudelaire repudia a noção de exatidão como valor estético e, com ela, a fotografia representante máxima naquele momento da reprodução fiel do visível.
Nesse artigo, Baudelaire mostra como a poesia e o progresso são “dois ambiciosos que se detestam com um ódio instintivo” e, se há confronto, um sempre tem que se sujeitar ao outro. Um dos sinais do progresso para o poeta é a fotografia, “refúgio de pintores fracassados e sem talento ou preguiçosos demais para terminarem seus esboços.”
Há contudo nesse artigo algumas inquietações de Baudelaire quanto ao papel que a fotografia deveria ocupar. Na opinião dele, deveria ser a “serva das ciências e das artes, mas humílima serva, como a imprensa e a estenografia, que não criaram nem substituíram a literatura”. E, se “lhe for permitido invadir o campo do impalpável e do imaginário, aquilo que vale somente porque o homem aí acrescenta algo da própria alma, então, pobres de nós!”
Ele se pergunta: que homem digno do nome de artista, e que amador verdadeiro já confundiu a arte com a indústria? Para Baudelaire, a fotografia era um meio mecânico de representação por onde não passava o estilo pessoal do artista. “Dia a dia a arte diminui o respeito por si mesma, prosterna-se diante da realidade exterior e o pintor torna-se cada vez mais inclinado a pintar não o que sonha, mas o que vê. No entanto, é uma felicidade sonhar e era uma glória exprimir o que se sonhava”.
Em “O público moderno e fotografia”, torna-se interessante ressaltar que Baudelaire não comenta uma só imagem. Foi a terceira exposição fotográfica organizada pela Société Française de Photographie e a primeira vez em que ela foi exposta paralela ao salão de arte, juntamente com a pintura e a escultura. Para o poeta essa pretensa ascensão artística proporcionou o mais profundo incômodo. A essa altura muitos dos fotógrafos da época, entre eles Félix Nadar, um de seus amigos mais próximos, já tinha feito dele vários portraits.
Além do fato de uma “ciência material” – a fotografia, nas palavras de Baudelaire-passar a ser considerada arte, o poeta abominava a idéia de ela retirar da arte toda a dimensão imaterial e éterea, tornando-se, ainda assim, um produto do belo. Baudelaire não une, no entanto, belo e verdadeiro. Ele diz que “o gosto exclusivo pelo Verdadeiro (tão nobre quanto limitado) reprime e sufoca o amor pelo belo.” E completa: “como o belo é surpreendente, seria absurdo supor que o que é surpreendente é sempre belo. Ora, nosso público, que é singularmente incapaz de sentir a felicidade da fantasia ou da perplexidade (sinal das almas mesquinhas), quer ser surpreendido por meios estranhos à arte, e seus artistas obedientes conformam-se a esse gosto; eles querem impressioná-lo, surpreendê­lo, deixá-lo estupefato através de estratagemas indignos, porque sabem que ele é incapaz de se extasiar diante da tática natural da arte verdadeira”.
Para Baudelaire, a fotografia era um meio estranho à arte, mas um meio capaz de surpreender e causar perplexidade, mesmo que a contragosto do poeta. Nesse aspecto, ele tenta livrar do belo o sentimento de surpresa e termina por se dissociar de uma idéia clássica da beleza. Libera a fotografia de um conceito estético de beleza, mas reconhece sua propriedade de criar uma suspensão, um êxtase. O que o incomoda é que este estado de perplexidade é alcançado justamente pela grande maioria, pelas “almas mesquinhas”, que são a seu ver incapazes de se “extasiar diante da arte verdadeira”.O poeta distingue os públicos: o que é capaz de compreender e se maravilhar com as obras de arte não é o mesmo que cai de amores pela fotografia.

Aula 14: 29 de setembro



Comentários sobre a exposição de Alécio de Andrade:
Concepção, edição de fotos, curadoria, texto de apresentação, vitrines com cartas de Cartier-Bresson e Marc Riboud, dando conta do ingresso de Alécio na Agência francesa Magnum e textos de Carlos Drummond de Andrade e Marques Rebelo sobre as fotos e a sensibilidade do fotografo. Quantidade e tamanho das fotos expostas, técnica e estilo.
Alécio comunga dos princípios do “instante decisivo”, instituído por Henri Cartier-Bresson que dizia: “a fotografia é o reconhecimento de um momento que não dura mais do que uma fração de segundos, mas, ao mesmo tempo é a representação das formas contidas neste momento que dão sua expressão, sua significação”.
Pedro de Sousa, no texto de apresentação da exposição, enfatiza que “a influência de Cartier-Bresson é de tal forma onipresente na fotografia moderna que o seu trabalho estabeleceu, por assim dizer, um padrão. Um padrão de rigor preto e branco, ausência de retoques ou reenquadramento das tiragens, ausência de flash – que Alécio faz seu. Alécio é também um mestre do instante, como o provam tantas imagens definitivas que fazem parte da nossa memória visual...”
Destaco aqui outro parágrafo do texto de Pedro sobre Alécio que nos será interessante para uma reflexão e debates sobre justamente o “estatuto do instante” forte referência para a fotografia e o contraponto com os pressupostos calcados na noção de imagem da fotografia contemporânea.
“Será que a genialidade do fotografo se limita então a descobrir e registrar situações curiosas, ou coincidências significativas? É claro que o fotografo, ao retratar um “motivo”, não se limita a “registra-lo”. Ele cristaliza nesse instante toda uma sensibilidade adquirida, que altera substancialmente esse “motivo” e, em ultima instância, o “faz existir”. Simplesmente o tempo na fotografia não se exprime na luta artesanal com as palavras, os sons, as formas ou as cores, que seria o apanagio das Artes com “A” maiúsculo. O tempo do fotografo precede e acompanha o olhar, capta o tempo dos outros e, no caso de Alécio, ensina-nos que nada é forçosamente aquilo que parece.”

Sobre os retratos.
Nossos olhos percorrem horizontalmente uma galeria de personalidades, de Michel Foucault, Jean Genet, Peter Brook, Franz Krajcberg, Mario Pedrosa, Ernesto Sabato, Henry Miller, Simone de Beauvoir e Sartre, Susan Sontag, Vinicius de Moraes e Toquinho, Baden Powel, Nana Vasconcelos, Marques Rebelo Fereira Gullar, Rubem Braga.....etc....
Muitos em seus contextos de vida, alguns em flagrantes e cenas de rua, em encontros possíveis, autorizados e permitidos. Em quase todos percebe-se uma cumplicidade entre modelo e fotografo. Mas um parece fugir a esse olhar: Foucault.
Pedro comenta pouco ou quase nada sobre os retratos. Vale de vocês, alunos, olhares e escritos inéditos a respeito do assunto.


O que Henri Cartier-Bresson dizia sobre o ato de retratar:
“é preciso estar disponível; é preciso olhar. Há muitos poucos que olham, vêem, identificam. Nas exposições, a maioria dá uma olhada rápida e vai direto nas etiquetas. A fotografia é o problema do tempo. Tudo desaparece. Com a fotografia existe a angustia que não há no desenho. O presente concreto ocorre numa fração de segundos, o que é desagradável e maravilhoso simultaneamente. Trata-se de uma luta contra o tempo que, por sua vez, é uma invenção do homem. É preciso esquecer de si mesmo e da nossa vontade, não querer nada e deixar as coisas virem sozinhas, como ensina o budismo. Com o desenho, tudo está ali, à espera, o tempo é praticamente infinito.”

Para oferecer pontos de reflexão, cito aqui o que a fotografa francesa, Denise Colomb, contemporânea de Cartier-Bresson e autora também de grande quantidade de retratos de artistas, intelectuais e escritores, dizia :
“Eu não conheço as pessoas, eu as fotografo”.

Aula 13: 24 de setembro: visita ao Instituto Moreira Salles


Chegamos ao Instituto, fomos recebidos por Sérgio Burgi, Coordenador de Fotografia que guiou nossa visita à exposição de Alécio de Andrade e depois nos recebeu, com sua equipe, na Reserva Técnica fotográfica, que abriga acervos históricos fotográficos: mais de 450 mil imagens, com ênfase para a iconografia urbana das grandes capitais brasileiras nos séculos XIX e XX. Com a prestação de serviços arquivisticos e de conservação de nível internacional, o IMS busca merecer a confiança de doadores e promover o interesse pelos acervos a ele confiados.
Na Reserva técnica, conhecemos o trabalho de restauração e conservação de fotografias, o processo de escaneamento e tratamento digital e ainda de identificação e triagem das imagens. Sérgio salientou a importância da adequação das condições de umidade e temperatura na conservação dos acervos fotográficos e explicou sobre a importância da aquisição pelo Instituto do conjunto da obra dos autores e não partes separadas de acervo.
Sobre a exposição, Sérgio comentou que esta é a primeira retrospectiva de Alécio de Andrade no Brasil. A edição das fotos foi feita em conjunto com a viúva do fotografo e quem fez as ampliações foi o laboratorista de Alécio, já acostumado a trabalhar com ele há bastante tempo. Sérgio chamou a atenção ainda para as primeiras imagens, intituladas “Itinerário da infância”, tema de sua primeira exposição individual, realizada na Petite galerie de Ipanema, no Rio de Janeiro em 1964 e que contou com texto de apresentação do escritor Marques Rebelo e Roberto Alvim Corrêa. Na época, Alécio ainda utilizava uma câmera com pequeno zoom. Ao posteriormente adotar a Leica, optou pela ausência de retoques, pelo quadro inteiro e não utilização de flash, além do preto e branco. O seu gosto por fotos de crianças lhe rendeu uma atenção especial na vida e a edição do livro “Enfances”, da psicanalista francesa Françoise Dolto.
A exposição de Alécio conta com 265 fotografias,ocupa cinco galerias do Instituto Moreira Salles e é dividida em: Itinerário de infância; Cenas de rua; Paris; retratos franceses e retratos brasileiros;
O texto de apresentação é de Pedro de Souza, português, licenciado em filosofia pela Universidade de Paris. Foi chefe do escritório da Editora Abril em Paris de 1977 a 2002. Atualmente coordena as atividades do Centro Celso Furtado, no Rio de Janeiro.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Aula 12: 22 de setembro

Leitura compartilhada dos contos "O Espelho", dos escritores Machado de Assis e Guimarães Rosa.



Trechos do conto de Machado:
"Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência..
a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora... Jacobina conta-lhes um caso de sua vida: em primeiro lugar não há só alma, mas duas...
-Nada menos de dual almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro....A alma exterior pode ser um espirito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. ..Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem que é, metafisicamente falando, uma laranja..."



Trechos do conto de Guimarães Rosa
"Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocionios e intuições.. .O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho nem tenha idéia do que seja na verdade - um espelho?...Reporto-me ao transcendente. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. .."O espelho são muitos, captando-lhe as feições; todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com aspecto próprio e praticamente imudado, do qual não lhe dão imagem fiel. ...como é que o senhor, eu, os restantes próximos, somos, no visivel? O senhor dirá: as fotografias o comprovam......ainda que tirados de imediato, um após o outro, os retratos sempre serão entre si muito diferentes...."